A sequência de cinco derrotas que o time do Corinthians amargou desde a chegada de Candinho ao Parque São Jorge não abalou a autoestima do ex-auxiliar-técnico da Seleção Brasileira. A razão é óbvia: quando assumiu o lugar de Vadão, há exatos 28 dias, Candinho sabia que a situação era dramática e imaginava que seria impossível salvá-lo da desclassificação na Copa João Havelange. "Já no meu dircurso de apresentação eu disse que seria muito difícil classificar a equipe. E também deixei bem claro que estava chegando para fazer um trabalho visando a temporada 2001. É óbvio que não sou o responsável pela sequência de derrotas que o time vem sofrendo. E também não acho que o meu currículo ficará prejudicado por causa dessa sequência de resultados negativos".
Em quase 40 anos de carreira, como jogador ou treinador, Candinho jamais perdeu tantos jogos seguidos como no Corinthians. E de certa forma vive um problema semelhante aos remanescentes das campanhas vitoriosas dos últimos dois anos e meio, quando o time ganhou praticamente tudo o que podia - um campeonato paulista, um bi-brasileiro e o título mundial de clubes. Candinho não fazia parte daquele grupo vencedor, mas também conseguiu algumas proezas na sua carreira como treinador - mas sempre fora do país e por isso mesmo suas conquistas não tiveram tanta repercussão no Brasil. A maior delas foi ter classificado a Arábia Saudita para a Copa do Mundo de 94, nos Estados Unidos.
"E como primeiro classificado numa disputa eliminatória que teve apenas duas vagas para 28 seleções", acrescenta o próprio Candinho.
"Sei até que muita gente aqui no Brasil não dá a devida importância para isso, por se tratar de Arábia, mas outros grandes treinadores como Rubens Minelli, Telê Santana e o Zagallo passaram por lá antes e não conseguiram a classificar a Arábia para uma Copa do Mundo. Tudo isso para dizer que também sou um técnico vencedor e não me sinto bem numa fase como a atual. Mas saber enfrentar esse tipo de situação é uma experiência que não vou esquecer. Eu e esses jogadores que ganharam praticamente tudo aqui no Corinthians".
Mais do que conviver com esse tipo de experiência, Candinho pretende usar no ano que vem todas as lições que o time acumulou neste segundo semestre. Esse tipo de ´terapia´ já deu certo há três anos, quando o próprio Corinthians viveu o mesmo problema no Campeonato Brasileiro de 97. Depois de salvar a equipe do rebaixamento naquele ano, Candinho deixou uma base pronta para o seu substituto, Wanderley Luxemburgo, que só trocou algumas peças e montou aquele time imbatível de 98 e 99. "O meu amigo Wanderley sabe o quanto foram importantes as experiências do ano anterior", lembra Candinho. "E eu também penso que há males que vêm para o bem. Bem administrado, o sofrimento de hoje para ser o ponto de partida para novas conquistas amanhã".
O amanhã de Candinho é o primeiro semestre de 2001. Com a desclassificação precoce na Copa João Havelange, o Corinthians terá a chance de se programar para o ano que vem - com as férias no tempo certo e uma pré-temporada decente, de pelo menos 20 dias fora da Capital. O treinador acredita que esse será um passo importante para recuperar o status de vencedor já no primeiro semestre de 2001. "Depois de tudo o que passamos na Copa João Havelange, o mínimo que se pode esperar do time em 2001 são alguns títulos. Um bom começo seria ganhar pelo menos duas das três competições que vamos disputar no ano que vem: o Rio-São Paulo, o Campeonato Paulista e principalmente a Copa do Brasil, que pode nos levar de volta à Libertadores".
José Eduardo Savóia