Os primórdios da história corintiana reservam uma contradição de que poucos torcedores alvinegros têm conhecimento hoje em dia. No dia 14 de setembro de 1910, o Corinthians realizava a segunda partida de sua história. O Timão havia sido derrotado pelo União da Lapa por 1 a 0, quatro dias antes. Mas na segunda partida, o ataque corintiano não passou em branco. Luiz Fabi, primeiro centroavante do clube, fez o primeiro gol da história do Corinthians na vitória de 2 a 0 sobre o Estrela Polar. O fato poderia passar ileso nos registros dos 90 anos do Sport Club Corinthians Paulista. Mas Fabi, responsável pela primeira alegria corintiana, foi também o causador de um dos maiores desgostos alvinegros: a fundação, quatro anos depois, do maior rival, o Palestra Itália – que mais tarde mudaria seu nome para Palmeiras.
Luiz Salvatore Fabi nasceu no dia 2 de maio de 1890, na cidade de Parma, na Itália. Com apenas dois anos de idade, Fabi chegou ao Brasil com sua família, que se instalou em São Paulo, no bairro do Bom Retiro, região onde o Corinthians foi gerado. Em 1910, o italiano, de 20 anos, foi convidado pelos cinco operários que fundaram o clube a integrar a primeira equipe do Corinthians.
– Meu pai nunca me falou sobre o lance do gol. Apenas contava que passava muitas tardes com enxada na mão, junto com outros jogadores, arrancando as raízes e plantas que nasciam no campo onde o Corinthians treinava – conta Luiz Fabi Júnior, de 75 anos, filho do primeiro centroavante do Timão.
O primeiro goleador do Corinthians deixou a equipe do Bom Retiro traído.
– A lenda conta que o Corinthians não tinha dinheiro para comprar uma bandeira. Então, um senhor rico do bairro doou uma bandeira para o time, com a condição de que seu filho fosse o centroavante da equipe. Desta forma, o meu pai foi embora – relata Luiz Fabi Júnior, que também tentou a sorte no futebol, atuando como goleiro em campeonatos amadores de São Paulo.
Pouco depois de seu desligamento do Corinthians, Luiz Fabi foi chamado por seu irmão, Maturio Fabi, a integrar a primeira equipe do Palestra Itália. A passagem de Fabi pelo alviverde não durou muito, mas foi o suficiente para torná-lo um torcedor palmeirense para o resto da vida. Fabi também esteve por alguns anos, até o início dos anos 20, nas fileiras do XV de Piracicaba.
O amadorismo do futebol dos anos 10 fez com que Luiz Fabi não guardasse recordações materiais da época. Mas o primeiro centroavante do Corinthians guardou algumas histórias que retratavam a precariedade do início do futebol no Brasil.
– Meu pai me contou que os primeiros calções do Corinthians eram feitos com sacos de farinha. Contou também que as primeiras camisas do Corinthians eram creme, e que depois de algumas lavagens, se tornavam brancas – relata Luiz Fabi Júnior.
No começo dos anos 20, Luiz Fabi, já fora do futebol, se tornou um funileiro metalúrgico, especialista na fabricação de geladeiras para frigoríficos. Fabi exerceu este ofício por muitos anos. Já no final de sua vida, na década de 60, o imigrante italiano recebeu o único reconhecimento em vida do clube do Bom Retiro. Fabi ganhou do Timão uma carteirinha de sócio, mas nunca chegou a freqüentá-lo. O ex-jogador ia apenas o Palmeiras, clube que ficava nas imediações de sua casa, em Perdizes.
Luiz Fabi faleceu em 1966, aos 76 anos. No velório, diretores do Corinthians fizeram questão de colocar uma bandeira do clube sobre o caixão de Fabi.
– Foi uma honra para meu pai. Lembro que minha mãe ficou muito emocionada com o gesto do Corinthians – recorda o filho do homem que fez o primeiro dos 8.937 gols festejados pelo Corinthians.